Sábado, 22 de Outubro de 2005
Folha
Folha solta, folha limpa
Que solta da árvore envolta
No ar ganha asas e grimpa
E caem às cem e às mil
Em tons de castanho e anil
[E a folha...]
Esquece-se que é frágil
Efemeramente dúctil
...Deixa[m] no chão um manto
Natural de encanto que recolta
De que eu gosto tanto, tanto
[...O Outono na sua plenitude de folhas no chão...]
Quinta-feira, 13 de Outubro de 2005
Sozinho lá fora
Foi sem demora
Sem medo ou delonga
Que o vi [sozinho] lá fora
Ciente da idade que prolonga
"Já não sou novo"
Escreve nos tristes olhos
De sentimento longo e covo
De quem viu dias aos molhos
"Ainda não sou velho"
Diz no coração de sangue a bater
Mostrando no sorriso o fedelho
Que a idade tenta abater
Foi com demora
Sem pressa ou vaidade
Que o vi [sozinho] ir embora
Enchendo os olhos de felicidade
[... a felicidade esconde-se para que seja encontrada...]
Segunda-feira, 3 de Outubro de 2005
A laranja
...E a laranja lá sorriu
Em gomos como é costume
Mostrando o brilho da sua cor
No meio do seu queixume
No seio da sua dor
[Sem saber de onde surgiu]
Cansada de ser redonda
Queria de outras formas ser
Que agora escorrega e cai
E têm dela vulgar parecer
[Que assim ninguém atrai]
Julgando-se hedionda
E nada a convence do contrário
Nem o seu brilho nem raridade
Desconhecendo o seu valor
Não se acha na verdade
[Falta-lhe, quem sabe, alor]
De um acaso arbitrário
E a história da laranja
É tão simples afinal
Ninguém repara no sorriso
[Que julga comum e banal]
Faltou-lhe talvez o siso
Que de gomos lá se arranja